O Subprocurador-Geral do Distrito Federal Valdson Gonçalves de Amorim entrou na Procuradoria-Geral no ano de 1996 na antiga Quarta Subprocuradoria-Geral. Atualmente, está lotado na Procuradoria do Contencioso em Matéria de Meio Ambiente e Patrimônio Urbanístico e Imobiliário/PGCONT.
Dentre outras atividades, Valdson participa de corridas de rua. Perguntado sobre o que o levou à essa prática, respondeu que resolveu começar a caminhar em 2006 para fugir do sedentarismo. Em poucos meses, já se sentindo bem melhor, passou a correr. “O meu foco é saúde, energia, disposição e vitalidade, além de a corrida ser um jeito de aliviar os estresses do dia a dia”, explicou.
Hoje, ele participa de corridas oficiais e até já viajou para fora do Distrito Federal e do país para correr meias maratonas. Sua rotina de treinamento é de três corridas de 10 km por semana.
Duas corridas são especialmente por ele lembradas. Uma foi a meia maratona do Parque Nacional de Foz do Iguaçu. “Eu sempre digo que se alguém quiser uma prova material da grandiosidade das obras de Deus, pode contemplar as Cataratas de Foz do Iguaçu”. A outra foi a meia maratona de Buenos Aires: “Foi muito bom correr lá. É uma cidade muito romântica e de clima agradável para corridas”.
Outro hobby seu é a marcenaria. “Aprendi com o meu pai e fui aperfeiçoando. Eventualmente eu faço móveis para uso pessoal. Os mobiliários do meu escritório de trabalho na minha casa foram feitos por mim. Também faço e restauro móveis para famílias carentes assistidas pela Sociedade de São Vicente de Paulo/SSVP, da qual participo. Quase sempre reaproveito madeiras retiradas de móveis danificados que seriam jogados no lixo”.
Valdson considera que que tem uma veia caritativa muito forte e já fazia isso antes mesmo de ser um Vicentino. “Eu vejo isto como uma missão Deus, o que dá maior significado ao que eu faço”, diz ele.
Valdson sugere a quem quiser participar de alguma pastoral ou encontrar uma forma de ajudar as pessoas: “Primeiro, você precisa descobrir do que gosta; onde está o seu carisma, a sua vocação, o seu talento, e depois se dedicar ao que está fazendo”.
Ele também é um leitor assíduo e escreve textos variados, principalmente crônicas, sempre que tem alguma oportunidade. Para encerrar esse perfil, deixamos você, leitor, com um dos seus textos:
Gostinho de infância
Meu filho acordou tossindo muito. Acho que na verdade ele nem dormiu, pois ouvi aquelas tosses de madrugada. Ainda me levantei e cheguei perto da porta do seu quarto e o chamei para ver se ele precisava de alguma coisa. Como não ouvi resposta, voltei para o meu quarto e permaneci em vigília, naquele estado meio dormindo e meio acordado que os pais conseguem ter.
Logo cedinho deu bom dia com a voz fanhosa de nariz entupido e disse que estava gripado e pediu-me para comprar um remédio para ele.
Perguntei se não queria ir ao hospital e ele respondeu resmungando que ninguém precisa ir a hospital por causa de uma gripe, dizendo ainda que não iria nem que fosse algo mais sério.
Acho que não iria mesmo, pois em outras vezes em que a situação parecia mais delicada eu o chamei e ele disse não. Como já não é mais criança, não quis insistir muito. A insistência sempre termina em discussão.
Depois que adolesceu, sempre se curou em casa mesmo. Talvez porque tenha a tal síndrome do jaleco branco. Quando ele era criança, sofreu muito com uma bronquite que quase não o largava. Sempre o levávamos ao hospital nos episódios de crise; e aí não tinha jeito, era nebulização com Berotec, soro fisiológico e injeção Benzetacil. Quem já tomou sabe o quanto essa injeção dói. Ficou tão traumatizado que quando andávamos pela rua e ele via alguém vestido de branco vindo em sua direção já começava a chorar, pensando que era o médico e sua injeção. Por isso, depois que ele cresceu nunca mais quis ir a médico.
Naquele dia em que ele acordou me pedindo remédio, fui à farmácia e comprei uma caixa daqueles comprimidos típicos para gripe. Eram vinte cápsulas que ele tomou como quis, pouco ligando para a prescrição da bula. Como a gripe não passou por completo, ele pediu para eu comprar outra caixa do tal antigripal. Mais uma vez eu disse que ele deveria ir ao médico e outra vez ele respondeu que não. Tomou a segunda caixa e nem por isso ficou curado de vez. Então, pediu que eu verificasse na farmácia se existia algum xarope, pois achava que se conseguisse expectorar ficaria melhor.
Conversei com o farmacêutico e ele me indicou um. Eu comprei, levei para casa e entreguei ao meu filho, explicando sobre a dosagem e os horários. Ele fez que ouviu, abriu a tampa, encheu o copinho que acompanhava a embalagem e o entornou na boca. Em seguida, falou:
– Tem gostinho de infância!
Imediatamente eu voltei à infância dele. Realmente, naquelas crises de bronquite que ele tinha com frequência, comprávamos xaropes pediátricos que tinham sabores variados; os mais comuns eram de morango e tutti frutti. Ele bebia com gosto, pois até o cheirinho era agradável. Precisávamos esconder o vidro para ele não tomar fora de hora, como se fosse um suco ou refrigerante. Até a dipirona em xarope era adocicada!
Eu também lambia o copinho para saborear o resto do xarope que ele deixava, mas fazia isto escondido dele e da mãe.
Quando ele disse que o xarope tinha gostinho de infância, uma nostalgia me invadiu. Assim que ele saiu, coloquei um pouco no copinho e o virei de uma vez na boca. O remédio era amargo e deixava um travo muito ruim. Fiquei com aquele gosto na boca por muito tempo, que não passou nem quando eu tomei água e café. O tal xarope não tinha nada a ver com gostinho de infância!
Fiquei pensando: se a infância dele teve aquele gosto, então deve ter sido muito ruim! Cheguei a ficar com a consciência pesada por algum tempo! Minha ilusão de que fui um bom pai se desfez ali!
No outro dia, pela manhã, quando eu estava me preparando para trabalhar, ele saiu do quarto, deu bom dia e disse que estava bem melhor e que o xarope era muito bom. Em seguida, pegou o vidro e tomou mais um copinho sem fazer qualquer careta.
Aí, eu não resisti e perguntei:
– Eu tomei o remédio e é muito amargo. Como você pode dizer que tem gosto de infância? Sua infância foi tão ruim assim?
E ele me respondeu:
– Não foi por causa do sabor. É que eu me lembrei de quando eu era criança e estava doente, você e a mamãe vinham dar o remédio de madrugada e aproveitavam e me faziam um carinho, davam um beijo no meu rosto ou na testa e diziam boa noite. E me lembro de que dormia melhor depois disso.
Então, compreendi que o gosto da infância não vem do sabor do medicamento que damos aos nossos filhos, mas do carinho que transforma qualquer xarope amargo em um remédio doce!
Valdson – outubro/2015.